"OLHAR O OUTRO COMO UM DOM" - 30/10/2023
Olhar o outro como um dom

Vivemos tempos de incerteza em todos os níveis, com uma grande dificuldade (e falo de nós cristãos) de podermos saber “estar” no mundo e entre as pessoas, para nós que deveríamos fazer da Encarnação o estilo da nossa vida.
Quantas vezes, por exemplo, ouvimos palavras como estas:
“Não entro na política porque é suja e cheia de gente sem escrúpulos...”
Uma forma de pensar que nasce da separação da nossa vida de fé e a Encarnação que deve ser a experiência típica do cristianismo, que é acreditar num Deus que se fez homem precisamente porque nós perdemos o sentido da vida e assim nos ajudar a redescobri-lo, dando-nos como proposta de vida nova, a de ser fermento e sal misturados na humanidade para fermentá-la de fraternidade.
O passapalavra de hoje “olhar o outro como um dom”, se vivido em profundidade e na gratuidade, é uma ventania de amor para tentar reintegrar com inteligência e criatividade a cultura do diálogo no nosso mundo e podermos assim viver e caminhar não apenas um ao lado do outro, mas juntos.
Para isso torna-se imprescindível parar os nossos julgamentos, passando a olhar para os outros com "simpatia", mesmo que ele seja diferente e capaz de nos contradizer.
Ter uma atitude de simpatia e interesse significa muitas vezes aceitar de não conseguirmos compreendê-los, mas de sermos capazes de partilhar a realidade de que a verdade deles tem a mesma legitimidade que a nossa.
É assim que lentamente podemos passar da simpatia à "empatia", ou seja, à capacidade de nos colocarmos no lugar feles e de compreendê-los por dentro.
De fato, a empatia nos permite de compreender que a vida nunca pode ser vivida por pessoas isoladas, porque nenhum de nós é uma ilha; e que só através do diálogo podemos iniciar um caminho fecundo de transformação e enriquecimento, porque vamos descobrindo também nos outros riquezas e luzes que vão matando em nós preconceitos e medos.
Dialogando, eis ...dois rostos e dois corações que se encontram frente a frente, redescobrindo com espanto que podem ser dom um para o outro.
É claro que a fronteira entre nós não está cancelada, mas, com certeza de lugar de conflitos e mal-entendidos, pode tornar-se um lugar de encontro e de busca da paz.
Porém se não temos nenhum interesse e, portanto, não esperamos nada dos outros e não nos esforçamos para vê-los como um dom, o diálogo morre antes mesmo de nascer; mas se estivermos pelo menos um pouco disponíveis ao outro - e esta deve ser a espiritualidade de nós cristãos - vai acendendo-se em nós a centelha e as palavras vão-se tornando um dom mútuo, fazendo emergir a interioridade que há em cada um de nós e que sabe descobrir o inestimável dom que está em todos, tornando-o muito mais luminoso para nós.
E é esta a graça daquele pedaço de "terra do meio" que está entre as pessoas, que no plano de Deus deve ser sempre lugar de encontro, de luz e de abraços.
Estou consciente que vendo as muitas guerras especialmente na Ucrânia e na Palestina dos nosso dias, estes pensamentos parecem ilusão, fora do tempo e da historia.
E infelizmente é verdade: para quem não tem fé a leitura da história não pode não ser essa!
Mas para nós não é este o mundo pelo qual Deus deu a sua vida?
Parece-me sacrilégio somente o pensar que tudo isso foi em vão!
Pe. Nino Carta
30.10.2023